quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ARTIGO SOBRE O CINEASTA DE BORDAS DAVID RANGEL ESCRITO POR CARLOS PRIMATI



Cinema de bordas

A saga épica da Cristo Filmes: a paixão radiocinéfila de David Rangel

Carlos Primati

“Assumo que sou vampiro e chupo filmes para renovar e limpar meu sangue.”
Jairo Ferreira

Ele nunca quis fazer filmes para ficar rico ou famoso e jamais acreditou que a vida de artista poderia ser seu ganha-pão. Mesmo assim, o carioca David Rangel, bancário aposentado, cinéfilo incansável e cidadão bem de vida, guarda muitas semelhanças com os chamados “cineastas de borda”, pessoas como Afonso Brazza, Simião Martiniano e Seu Manoelzinho, um bombeiro, um camelô e um ajudante de pedreiro que, à sua maneira, decidiram pegar uma câmera e começar a fazer filmes com propostas simples e originais. Outras características aproximam Rangel de seus colegas notórios, a começar pelo conhecimento restrito da produção cinematográfica mundial, com seu interesse principal – também ecoando a predileção dos demais ‘bordistas’ – voltado ao cinema comercial de grande visibilidade, filmes do tipo ‘arrasa-quarteirão’. Tampouco acompanha a produção nacional; mesmo tendo iniciado as atividades na década de 1960, desconhece, por exemplo, Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla e Ivan Cardoso[1], que na mesma época também se aventuravam em produções semi-amadoras em 8mm. Mas sabe quem é Júlio Bressane, diretor de Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), outro que começou na bitola pequena, e de quem David gosta de citar a frase “Filmo para os amigos”, adotando-a como um lema de sua atividade.
Para os amigos e com os amigos. O esquema de esforço coletivo, contando com a colaboração espontânea e não-remunerada de colegas e vizinhos, também contribui para filiar os filmes de David Rangel ao cenário das bordas, onde a mão de obra profissional é quase inexistente. São fitas realizadas com recursos limitados, por um cineasta jovem e autodidata, com mais empolgação do que treinamento teórico: sua gramática de cinema foi absorvida meramente na condição de observador. Porém, seus filmes demonstram a capacidade do diretor de, à sua maneira particular, transformar nada em alguma coisa. Qualidades intrínsecas, como bem sabemos, dos ‘bordistas’ em geral, de quem nos interessa saber tanto como quanto o quê e porquê. Muitas vezes, mais o como do que qualquer outra coisa.
Um detalhe, entretanto, isola David Rangel de praticamente todos os demais cineastas de borda: seus primeiros filmes foram feitos mais de trinta anos antes que Brazza, Martiniano, Manoelzinho e tantos outros entuasiastas da produção amadora começassem a filmar. O quando passa agora a ser mais uma variável a ser levada em conta nesse complexo cenário de um cinema quase invisível.
Filho único de uma família de classe-média do bairro do Sampaio, na zona norte do Rio de Janeiro, David Caldas Rangel nasceu em 23 de outubro de 1946. Desde cedo demonstrou interesse por artes cênicas e música erudita. A admiração pelas obras de Beethoven, Tchaikovsky e Verdi o levaram a estudar piano quando tinha quinze anos, mas não chegou a levar a atividade a sério[2]. A dramaturgia surgiu em sua vida por influência do pai, Alcyr Pinheiro Rangel, engenheiro e professor que nutria grande paixão por teatro, chegando a interpretar nos palcos o monólogo As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch. Escreveu a peça Castelo de Areia, na qual também atuou e que mais tarde foi publicada em forma de livro. Pinheiro Rangel tentou também o cinema, onde contracenou com Oscarito e Carequinha em três importantes produções da Atlântida: O Homem do Sputnik, Pintando o Sete e O Palhaço o Que É?, todos de 1959. Porém, seu envolvimento com a sétima arte resumiu-se a essas breves aparições[a].
David gostava de imitar o que o pai fazia em cima do palco e interpretava trechos de Castelo de Areia em reuniões de amigos e familiares. Na mesma época, quando tinha quatorze anos, passou a frequentar uma loja de artigos e fotos de cinema no bairro do Méier. Visitava o local quase que diariamente, quando voltava da escola, e logo fez amizade com o dono do estabelecimento. Este lhe emprestou uma câmera filmadora de 8mm, com a qual David cometeu seus primeiros filmes caseiros. O pai, que não gostava da idéia de o menino usar equipamento emprestado, decidiu lhe comprar uma câmera. Os épicos históricos estavam em moda na época; assim, a primeira realização de David com o novo maquinário foi a história de Júlio César, filmada entre 1962 e 63. O filme era mudo, em preto e branco, repleto de cenas com lutas de espada de madeira e efeitos visuais razoáveis para uma produção dessa natureza. Havia até uma cena romântica feita a cores: um beijo entre David, no papel de Júlio César, e sua namorada Lélia Campos, como Cleópatra.
A primeira experiência fílmica deixou David motivado o bastante para ele imediatamente partir para o próximo projeto. Sua idéia inicial foi refazer Júlio César, desta vez com mais cenas coloridas, e ele chegou a filmar alguns rolos em meados de 1964. Porém, à esta altura, o garoto já estava se interessando por outros gêneros – e, assim, decidiu mudar radicalmente o estilo de sua próxima realização.

Conde Lavud: a volta do que não foi

No início da década de 1960, filmes mexicanos com vampiros, lobisomens e outros monstros eram muito populares entre o público juvenil que frequentava as sessões duplas vespertinas dos cinemas de segunda classe. Entre os mais famosos desse ciclo estavam O Vampiro (El Vampiro) e O Ataúde do Vampiro[3] (El Ataúd del Vampiro), ambos de 1957, protagonizados por Germán Robles no papel do Conde Karol de Lavud. Foi a inspiração necessária para o surgimento de A Volta do Vampiro (1964), filme de curta-metragem, em preto e branco, que marca o início do que podemos chamar de ‘fase clássica’ de David Rangel, quando ele começou a desenvolver seus projetos de maneira mais formal, escrevendo o roteiro, cuidando de detalhes da pré-produção e bolando os efeitos especiais.
Antes, porém, David decidiu organizar a empresa. Precisava de um nome para sua companhia produtora, algo grandioso, imponente, épico. Surgiu então o nome Cristo Filmes[4]; segundo ele mesmo, sem saber como ou por que. “Apenas soava bem aos ouvidos”, argumenta. A logomarca, concebida pelo próprio David, consiste na frase “Cristo Filmes apresenta”, com o desenho de uma câmera de 8mm ao fundo e quatro holofotes posicionados nos extremos da tela. A trilha escolhida foi a famosa fanfarra composta por Alfred Newman para a vinheta de abertura dos filmes da Twentieth Century-Fox.
O próprio David aparece no papel do vampiro, que aqui também se chama Conde Karol de Lavud, como na duologia mexicana, denunciando de maneira inequívoca sua inspiração direta. A trama, apesar de pobre, sem aprofundamento ou complexidade nas motivações dos personagens, não é totalmente desprovida de graça e charme; demonstra uma compreensão dos clichês associados aos filmes de horror e aplica da melhor maneira possível essas regras. A direção mostra lampejos de criatividade; a câmera treme nervosamente e às vezes busca em vão algum personagem que teima em fugir de quadro, mas David mostra uma surpreendente noção instintiva de plano, contraplano, plano detalhe, subjetividade e continuidade, montando e editando todo o filme diretamente na câmera.
Uma inovação notável que marca A Volta do Vampiro é o uso, pela primeira vez, de um sistema de sonorização inventado pelo próprio cineasta. Como os filmes em 8mm eram mudos, David decidiu gravar a trilha de áudio, incluindo narração, música e efeitos sonoros, em fitas de rolo. Não havia diálogos no filme, o que permitia uma pequena margem de erro na sincronia de som e imagem, mas ainda assim o processo era problemático e exigia atenção constante ao lado do projetor e do gravador, para realizar eventuais ajustes. O cineasta voltaria a usar esse sistema, fazendo alguns aprimoramentos, em todas as suas próximas realizações.

James Bond à brasileira

O interesse de David por cinema não parava de crescer. Ao encanto por filmes épicos e de horror, logo somou-se o fascínio por aventuras de espionagem, gênero que explodiu nas telas por meio das produções estreladas por Sean Connery no papel do espião James Bond[5], o 007. O resultado foi O Roubo das Jóias[6] (1965), curta-metragem de 30 minutos filmado em preto e branco, em 8mm. Novamente contou com sonorização artificial e narração de Celso Couto. A inspiração em James Bond é assumida, inclusive fazendo uso de sua conhecida música-tema; entretanto, o espião inglês não foi a única referência do cineasta: o detetive Anjo[b], criado e interpretado por Álvaro Aguiar no rádio[c] foi outra fonte utilizada na elaboração da trama. O roteiro mistura indistintamente – e de maneira bastante confusa – elementos de mistério, assassinato e conspiração, incluindo um escritório da Interpol instalado no Rio de Janeiro e um enigmático agente americano chamado John Smith; além, obviamente, de um roubo de jóias e muita violência.
Tanto A Volta do Vampiro quanto O Roubo das Jóias identificam nominalmente a cidade do Rio de Janeiro como cenário de suas tramas. Isso possibilitou que os curtas participassem do Festival de Cinema Amador JB-Mesbla, promovido pelo Jornal do Brasil e pela loja de departamentos Mesbla. O regulamento exigia que a cidade fosse o cenário ou tema do filme. O periódico comentou a inscrição dos filmes numa reportagem do dia 2 de abril de 1965, na qual cita os realizadores David Caldas Rangel, Paulo Ernesto Moreira e Antônio Carlos Bragança e afirma: “Os roteiros dos dois filmes foram baseados em histórias combinadas após longas conversas entre os três cineastas iniciantes que, nas filmagens, contaram com a colaboração da sua rua em Sampaio, cujos habitantes ajudaram nas tomadas de cena, trabalhando como atores ou apenas incentivando”. O criativo sistema de sonorização desenvolvido por David foi motivo de controvérsia no festival: o mesmo artigo prossegue dizendo “o regulamento (…) exige que o som venha gravado na própria cópia do filme, fato capaz de obrigar a inscrição dos dois filmes na categoria dos mudos”. A polêmica resultou na retirada dos filmes do evento, quando David se revoltou com a decisão que seus filmes seriam categorizados como mudos.
O diretor voltou a se aventurar pelo mundo do sobrenatural com o curta-metragem O Livro da Vingança (1966), sobre uma criança que sofre uma maldição diabólica e, ao chegar à idade adulta, transforma-se num vampiro sanguinário e impiedoso. O próprio David aparece no papel do monstro, num filme dinâmico, cheio de situações extravagantes e exageradas, com mortes, investigações policiais e perseguições que terminam no alto de uma igreja em construção. A inspiração veio do filme mexicano O Mundo dos Vampiros (El Mundo de los Vampiros, 1961), do qual pegou emprestado o nome do vilão e o personagem de um serviçal corcunda e aleijado que acompanha o monstro em seus atos horrendos. O filme, novamente contando com narração em off[7] gravada em fitas de rolo, tem maior coerência e clareza do que os anteriores. Foi o último filme de Rangel a contar um enredo original. Seus próximos projetos promoveriam uma inusitada combinação de rádio e cinema.
O Livro da Vingança encerra o que podemos considerar a fase juvenília de David Rangel. Seu próximo filme chegaria às telas somente cinco anos mais tarde, mas a demora seria mais do que justificada. Na época com quase 21 anos, ele precisava de um emprego, pois nunca havia considerado a hipótese de obter seu sustento a partir dos filmes que fazia. Era comum em meio às famílias de classe-média cariocas daquela época incentivar os filhos a prestar concurso para cargos públicos, como uma maneira de garantir um rendimento tranquilo para toda a vida. David entrou para o Banco Boavista em 1967, onde trabalhou até 1970. Depois foi para o BEG (Banco do Estado da Guanabara), que se tornaria o BERJ (Banco do Estado do Rio de Janeiro) e então Banerj, onde permaneceu até se aposentar. Teve um único emprego durante toda a vida, porém jamais deixou de lado sua paixão cinéfila.

Jesus Cristo em oito milímetros

As incursões do diretor em gêneros como o horror, o mistério e a espionagem não o demoveram de sua devoção aos épicos religiosos, que começara ainda na infância, quando viu Marcelino Pão e Vinho (Marcelino Pan y Vino, 1955) e ficou intrigado com a fascinante imagem da aparição de Jesus Cristo na cruz. A vontade de fazer um filme sobre a vida de Cristo surgiu em 1962, quando foi lançado O Rei dos Reis (King of Kings), estrelado por Jeffrey Hunter no papel do Salvador. Àquela altura, Rangel assistira a praticamente todos os grandes filmes do gênero: O Mártir do Calvário (El Mártir del Calvario, 1952), O Manto Sagrado (The Robe, 1953), Quo Vadis (1951), Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956), El Cid (1961), Ben-Hur (1959) e o mudo A Vida de Cristo (La Vie et la Passion de Jésus Christ, 1903), atração cristã obrigatória em toda Semana Santa.
Também fazia muito sucesso na época a radiodramatização A Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, produzida pela Rádio Nacional, um ambicioso épico com mais de duas horas e meia de duração escrito por Guioseppe Ghiaroni. O programa foi ao ar originalmente em 27 de março de 1959 e passou a ser reprisado anualmente no período da Semana Santa. Contava com as vozes de Hemilcio Froes (José), Amélia de Oliveira (Maria), Luiz Manoel (Jesus menino), Roberto Faissal (Jesus adulto), Mario Lago (Herodes), Rodolfo Mayer (Satanás) e grande elenco. Depois de conseguir uma gravação do programa, David começou a cuidar dos preparativos de seu projeto mais desafiador; sua fixação por épicos religiosos e por seus astros preferidos, Charlton Heston[d] e Jeffrey Hunter, finalmente renderia frutos[e].
O filme recebeu o título O Senhor do Universo, ainda na bitola 8mm e totalmente colorido, mas desta vez com um sistema de sonorização mais complicado, pois pela primeira vez ele filmaria personagens dialogando em cena. A técnica, peculiar e possivelmente inédita, assemelha-se ao processo de produção de filmes animados, nos quais os diálogos são gravados primeiro para que depois seja desenvolvido o processo de animação, incluindo os movimentos labiais. Ou, numa analogia mais direta, ao processo comumente adotado na gravação de videoclipes musicais, nos quais o modelo mais corriqueiro consiste no artista dublar a própria interpretação, utilizando a canção em playback, para posterior montagem e mixagem do áudio com o material filmado. A projeção também era um problema; o próprio David explica melhor o complicado funcionamento da geringonça: “o gravador (…) não estava interligado ao projetor, tendo que haver vários pontos chaves na gravação que serviam de sincronismo para cada nova cena; a fim de que a imagem estivesse sempre em sintonia com o som, era necessário que o projetor contivesse um variador de velocidade e com pequenas variações pudesse estar sempre junto com o som”.
Decidido a levar às últimas consequências o conceito de ‘superprodução épica’, o cineasta não economizou em figurinos, objetos de cena, animais e locações. Iniciou os preparativos ainda em 1966, convocou uma verdadeira legião de figurantes, todos com incrível disposição para colaborar, e escalou um grande elenco para os papéis importantes. O eleito para fazer o papel principal foi Iramar W. Mendonça, na época com 23 anos, que se mostrou capacitado para a espinhosa tarefa. Sua presença em cena esbanja carisma, apesar da incômoda limitação de atuar por meio de gestos e mímica. As filmagens começaram em 22 de outubro de 1967, na véspera do 21º aniversário do diretor, quando foi gravada a cena do batismo de Jesus Cristo, e prosseguiram até o início de 1970.
A empreitada não ficou imune sequer a um daqueles embaraçosos acidentes de percurso típicos da produção amadora, feita à base de improviso e adaptação. O episódio foi parar nas páginas do jornal A Notícia, em 4 de dezembro de 1967, com o título “Senhor do Universo foi parar na polícia”, relatando um incidente ocorrido quando estava sendo filmada a cena de José e Maria saindo de Jerusalém. Depois de esperar em vão o homem encarregado de levar ao local o burro necessário para a cena, a equipe de filmagem decidiu usar um pônei que avistou na vizinhança. “O dono do pônei, armado de pau, chegou e, sem estar fardado de soldado de Herodes investiu contra José e Maria e contra toda a equipe, chamando-os de ladrões”, explica a reportagem, sem disfarçar a graça que via na situação. A turma foi parar na delegacia, onde o mal-entendido foi desfeito e tudo terminou em confraternização.
O Senhor do Universo estreou em grande estilo em 9 de janeiro de 1971, num espaçoso salão da escola Sara Moraes, em sessão lotada exclusiva para convidados. Pouco mais de dois meses depois, no domingo da Semana Santa, o filme foi exibido no Cine Nazaré, localizado ao lado da igreja Nossa Senhora da Conceição, no Engenho Novo. Foram três sessões, às 16, 18 e 20h, com ocupação total da sala e direito a porteiro, lanterninha e vendedor de ingressos. O filme, com quase duas horas de duração, contava inclusive com um intervalo, à maneira dos épicos hollywoodianos. David, que estava acostumado a exibir seus filmes em escolas e na casa de amigos ou parentes, pela primeira vez ganhou algum dinheiro com cinema. O lucro foi distribuído entre a equipe técnica e elenco; sobrou até um dinheirinho para ajudar a empregada da família a ajeitar o barraco, derrubado por uma ventania.
Faz-se necessário ressaltar que a predileção de David Rangel por filmes religiosos não tem relação com sua fé ou crença particular. O cineasta faz questão de deixar claro que não é religioso e não segue qualquer doutrina. Frequentava a igreja católica quando garoto, por influência dos pais, chegando a fazer a primeira-comunhão. Acreditava em tudo que aprendia da Bíblia – e também acreditava em vampiros. “Eu era um menino mimado; aos 15 anos, tinha mentalidade de 11 ou 12”, revela Rangel, acrescentando que a descrença na religião foi gradual, devido a uma série de decepções e à hipocrisia de algumas pessoas. A paixão por épicos, entretanto, nunca diminuiu. “Acho tudo bonito”, entusiasma-se; e explica como foi sua abordagem em O Senhor do Universo: “Filmei como está no livro, independentemente de acreditar ou não”.

Os últimos ruídos do rádio

O cineasta voltou a filmar apenas três anos depois, adaptando um conto policial gravado do rádio. A fonte escolhida foi uma radionovela de suspense escrita por Hélio do Soveral – profissional prolífico e respeitado na esfera radiofônica – e levada ao ar pela Rádio Nacional no Teatro de Mistério[f], programa de muita popularidade que atravessou as décadas de 1960 e 70 e chegou à metade dos anos 80. A série tinha como protagonista o inspetor Santos, vivido em carne e osso no filme por Antônio Diogo, novamente no processo de mímica labial para posteriormente se encaixar com o áudio pré-gravado.
Justiça a Qualquer Preço (1973) conta a história de uma vulgar cantora de cabaré morta violentamente ao voltar para casa. Um grande mistério é feito quanto à identidade do assassino, revelado somente no final, de maneira imprevisível. Pouco antes do desfecho da história, o filme é interrompido para que o espectador tenha a oportunidade de desvendar o crime antes da derradeira revelação. A idéia foi copiada do filme E Não Sobrou Nenhum (Ten Little Indians, 1965), de George Pollock, que incluia o “whudunit break”, uma pausa de sessenta segundos para que o espectador pudesse adivinhar quem é o culpado[g]. O prólogo e o epílogo, escritos pelo próprio David Rangel e narrado por Cesar Velasco, foram inspirados no filme Cidade Nua (The Naked City, 1948), de Jules Dassin.
O filme apresenta uma sensível melhoria de David no domínio da técnica, na edição e montagem, enquadramento e direção de atores. É curioso observar como cada filme seu reflete a faixa etária na qual ele se inseria; nos primeiros, os atores são todos adolescentes, que retornam como jovens adultos nos filmes posteriores. Justiça a Qualquer Preço destoa dos demais por apresentar adultos e pessoas de meia-idade nos principais papéis, o que propicia uma maior credibilidade à trama.
Os próximos vinte anos foram uma sucessão de frustrações para o cineasta. Em 1976 tentou recriar A Última Carroça (The Last Wagon), faroeste clássico dirigido por Delmer Daves em 1956. A versão brasileira se chamaria A Sangue-Frio e ele chegou a escolher as locações numa fazenda, onde gravou algumas cenas para testar a lente CinemaScope, usando uma câmera de 16mm. Desistiu quando percebeu que não conseguiria filmar sem uma equipe técnica competente. Cinco anos depois, outra tentativa e nova decepção, desta vez a refilmagem de Psicose (Psycho, 1960), que se chamaria Obsessão. O ator Robson Souza, antigo colaborador do cineasta, faria o papel de Norman Bates, mas David acabou desistindo devido ao desinteresse de parte do elenco em decorar os diálogos – ainda no sistema de mímica para combinar com o áudio da dublagem em português do filme original.
Quando o diretor finalmente conseguiu voltar à atividade fílmica, o cenário havia mudado de maneira significativa. Filmes em 8mm, Super-8 ou 16mm eram coisa do passado e a bitola profissional em 35mm era um luxo acessível somente aos profissionais de cinema. Em compensação, câmeras de vídeo no formato VHS eram facilmente encontradas no mercado, direcionadas principalmente ao realizador amador. A maioria das pessoas tinha essas câmeras em casa para registrar festas de aniversário, casamentos, passeios turísticos e outras situações familiares cotidianas. Outros aproveitavam a urgência da fita magnética para brincar de fazer cinema.
Novelas de rádio e histórias de faroeste também estavam fora de moda em 1994, quando David teve a idéia de fazer uma adaptação de Jerônimo, o Herói do Sertão, baseado na criação radiofônica de Moysés Weltman. O programa, com Milton Rangel dublando a voz do personagem central, foi ao ar pela primeira vez em 1953 pela Rádio Nacional. Jerônimo ficou quatorze anos no ar e foi adaptado para histórias em quadrinhos, televisão e cinema[h]. A versão feita por David Rangel tem Edson de Oliveira como Jerônimo e Wladimir Valladares no papel de seu fiel acompanhante Moleque Sacy. O áudio foi extraído de um LP lançado ainda na década de 1950, contendo o episódio Jerônimo Faz Justiça. O diretor aproveitou também trechos do episódio Morte ao Amanhecer no prólogo.
As filmagens foram realizadas em Paty do Alferes, cidade serrana localizada a 120 quilômetros da capital fluminense, em locações naturais e uma casa de campo. Figurinos foram confeccionados especialmente para a produção, reproduzindo com a máxima fidelidade o visual consagrado nas histórias em quadrinhos. A trama do filme, deliciosamente antiquada e com direito aos estalos característicos do disco de vinil no áudio, envolve a morte misteriosa de um rico dono de terras. O filme foi lançado diretamente em fita de vídeo em 1996, mas teve pouca distribuição, limitando-se aos amigos e conhecidos da equipe técnica e elenco. O filme, com pouco mais de meia hora de duração, é acompanhado pelo programa O Making Of de um Épico Sertanejo, que detalha os bastidores desta apaixonada empreitada. Nesse mesmo ano Rangel realizou o documentário De Júlio César a Jerônimo, no qual faz um panorama detalhado de toda sua carreira.

Loucura cinéfila

David Rangel assume ser adepto do estilo de imitar cenas consagradas de outros filmes, o que considera como reconhecimento e homenagem aos mestres do cinema, citando como exemplo o diretor Brian DePalma, notório imitador de Alfred Hitchcock. Parece, com isso, buscar uma maneira de validar seu processo criativo. Se DePalma copia, por que ele não pode fazer o mesmo? Entretanto, tal procedimento não inviabiliza o conceito de que seus filmes também possam ser ‘autorais’; muito pelo contrário: justamente por serem derivados de obras consagradas, é possível acompanhar de maneira quase didática o processo pelo qual tais idéias são levadas às telas e o quanto se deturpam nesse percurso, revelando mais sobre o realizador do que talvez ele se dê conta.
Seus filmes, acima de tudo, pintam um retrato fiel das descobertas cinemáticas feitas pelo diretor a cada período: “Quando fiz filmes de vampiro, eu conhecia apenas os mexicanos, por isso tive que copiá-los”, ele explica. Os clássicos filmes de vampiro da produtora inglesa Hammer, estrelados por Christopher Lee, eram proibidos para menores de 18 anos no Brasil. David tinha 14 ou 15 anos e não pôde vê-los. Só foi assisti-los mais tarde, na televisão. “Os mexicanos também eram proibidos, mas eu frequentava um cinema de padres e eles deixavam a gente entrar”, revela.
Uma tentativa de análise mais profunda quanto a conteúdo, estilo ou estética na obra de David Rangel desviaria o foco de seu real significado. Seus filmes não existem para expressar novas idéias ou expor uma visão artística particular. Seu propósito único é o puro e ingênuo exercício da cinefilia transmutado em criação artística amadora, sem maiores ambições. Deixando a posição de observador passivo comumente reservada ao cinéfilo tradicional, ele se dispôs a recriar obras prediletas e reimaginar personagens marcantes do rádio e da tela prateada, muitas vezes concebendo composições imagéticas para criações restritas ao campo sonoro, como no caso das radionovelas.
Seus filmes tiveram um breve momento nos holofotes quando O Senhor do Universo e Jerônimo foram selecionados para a Mostra Loucos por Cinema, do Festival do Rio de 2003. O evento, apresentado por José Wilker, diretor-presidente da RioFilme, contemplou também outros cineastas de bordas: o pernambucano Simião Martiniano, o goiano Martins Muniz e o candango Afonso Brazza. “O encanto desses filmes é a precariedade”, comentou Wilker ao jornal O Dia, explicando: “Como não têm compromisso com retorno comercial ou sucesso com a crítica, o universo e o imaginário deles estão muito presentes”. Cada filme teve direito a quatro sessões em dias diferentes, sempre no cinema Estação Botafogo 3.
A imprensa carioca não desperdiçou a oportunidade de explorar o exotismo de Rangel e toda a trupe. O desconhecimento sobre o assunto era flagrante: o repórter Renato Lemos, em artigo publicado em 3 de outubro de 2003 no Caderno B do Jornal do Brasil, não pensou duas vezes e apelidou David de “o Ed Wood do Riachuelo”. O texto tenta fazer graça e altera o surrado jargão do cinema-improviso feito no Brasil para “uma idéia maluca na cabeça, uma câmera nas coxas e um zero no saldo bancário”. O jornalista conclui definindo os filmes de David Rangel como “feitos de idéias mirabolantes, macetes, ingenuidade e alguma canastrice”.
O cineasta externou sua opinião sobre a crítica de cinema no material de divulgação intitulado Nós no Festival do Rio 2003: “[n]a maioria das vezes [são] originadas de quem sequer sabe ligar um filmador ou um projetor; porém, pegar uma caneta para escrever asneiras é bem mais fácil e qualquer um faz”. No mesmo texto, David define a natureza amadora como alguém que “o faz com gosto, com carinho, por paixão, sabendo que não irá auferir lucros com seu trabalho, e por isso mesmo dá o que há de mais puro de si”.
David Rangel preenche com exatidão quase acadêmica as características delineadas por Marcius Freire[8] em sua precisa descrição das idiossincrasias que formam um cineasta de borda, ao ponto de tornar-se dispensável enumerá-las aqui. O que podemos acrescentar é que, diante da (re)descoberta da obra do ‘bordista’ carioca, é possível ajuizar que esse fenômeno independe de época; posto que já sabíamos não estar restrito a determinadas classes sociais e/ou localizações geográficas específicas. Um cinema incapaz de penetrar no núcleo, mas livre de fronteiras, solto no espaço e no tempo, desprovido de preconceitos ou vícios de linguagem.
Pouco, talvez nada, foi escrito sobre os filmes de David Rangel além da atenção efêmera que lhe foi dispensada em ocasião do Festival do Rio, em 2003. Quatro de seus seis filmes não são exibidos ao público desde a época de seus lançamentos originais, há 40, 45, quase 50 anos. David se diz desinteressado pelo cinema moderno; odeia misturas de gêneros, repudia coisas como Entrevista com o Vampiro e Crepúsculo (“O único vampiro gay que aceito é o do Polanski!”) ou sagas de fantasia repletas de efeitos digitais como O Senhor dos Anéis e Harry Potter. Foi ao cinema ver Os Mercenários (The Expendables, 2010), de Sylvester Stallone, apenas para ver se reconheceria os cenários do Rio de Janeiro. Torce pelo Flamengo, sem dar muita bola se o time ganha ou perde, gostava de ver Bruce Lee em ação e admira o lutador Anderson Silva – mas odeia judô. Está perdendo a vontade de fazer fitas, mas há mais de vinte anos pensa em filmar uma história de vampiro que se passa dentro de um ônibus.
Talvez tenha chegado a hora de conhecer – e reconhecer – aquele que pode ser considerado o precursor do que chamamos “cinema de bordas”.



Referências bibliográficas

AGUIAR, Ronaldo Conde. Almanaque da Rádio Nacional. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.
FERREIRA, Jairo. Cinema de Invenção. São Paulo: Limiar, 2000.
LYRA, Bernadette e SANTANA, Gelson (orgs.). Cinema de Bordas. São Paulo: A Lápis, 2006.
MASCARELLO, Fernando (org.). História do Cinema Mundial. Campinas: Papirus, 2010.
SALVADOR, Roberto. A Era do Radioteatro. Rio de Janeiro: Gramma, 2010.
SANTANA, Gelson (org.). Cinema de Bordas 2. São Paulo: A Lápis, 2008.
SILVA NETO, Antônio Leão da. Dicionário de Filmes Brasileiros: Longa-Metragem. São Paulo: Edição do Autor, 2002.

Jornais

“Júri do Festival de Cinema Amador JB-Mesbla vê hoje dois primeiros inscritos”. In: Jornal do Brasil, 2 de abril de 1965.
“Senhor do Universo foi parar na polícia”. In: A Notícia, 4 de dezembro de 1967.
“David Rangel é o maior fã que Charlton Heston tem no mundo”. In: Última Hora, 6 de agosto de 1978.
“Cinema de gente comum”. In: O Dia, 21 de setembro de 2003.
“Loucos por cinema”. In: Jornal do Brasil, Caderno B, 3 de outubro de 2003.

Fichas técnicas dos filmes dirigidos por David Rangel

JÚLIO CÉSAR. Brasil/Rio de Janeiro, 1963, 8mm, aprox. 15 min. Produtora: sem produtora. Produção, direção, roteiro e edição: David Rangel. Fotografia: Paulo E. Moreira. Elenco: David Rangel, Antônio Bragança, Paulo Moreira, Lélia Campos, Robson Souza, Celso Marins, Carlos Marins, Renato Alfaia. Existem apenas fragmentos deste filme.

A VOLTA DO VAMPIRO. Brasil/Rio de Janeiro, 1964, 8mm, 26 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição: David Rangel. Fotografia: Paulo E. Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa. Narração: Celso Couto. Elenco: Antônio Bragança, Paulo Moreira, David Rangel, Renato Moreira, Norbim Pereira, Márcio Cesar, Celso Couto, Teresa Pedrosa, Eliana Bragança, Maria Pereira, Josemar S. Pinto.

O ROUBO DAS JÓIAS. Brasil/Rio de Janeiro, 1965, 8mm, 30 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição: David Rangel. Fotografia: Paulo E. Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa. Narração: Celso Couto. Elenco: David Rangel, Lélia Campos, Paulo Moreira, Norbim Pereira, Antônio Bragança, Eliana Demarco, Celso Couto, Renato Moreira, Aleixo Lopes, Max Martins.

O LIVRO DA VINGANÇA. Brasil/Rio de Janeiro, 1966, 8mm, 23 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição: David Rangel. Fotografia: Paulo E. Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa, Gustavo Cezar Carrión, Tchaikovsky. Narração: Paulo Moreira. Elenco: David Rangel, Reinaldo Silveira, Fátima Silveira, Dayse Miranda, Paulo Moreira, Aleixo Lopes, Nelson Ferreira, Zoraida Lozada, Maria Roza, Eliana Bragança, Antônio Bragança, Arlington Barbosa, Arnon Barbosa, Celso Couto, Ivanir Ferreira, Renato Moreira.

O SENHOR DO UNIVERSO. Brasil/Rio de Janeiro, 1970, 8mm, 101 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro, fotografia e edição: David Rangel. Trilha sonora: Miklós Rózsa. Narração: Celso Couto. Elenco: Iramar W. Mendonça, Ary Silva, Adilson Miguel, Paulo Frias, Fátima Costa, Antônio Bragança, Sérgio Santana, Robson Souza, José Lessa, Maury Cardoso, Firmino Rocha, Nelson Ferreira, Angela Guerra, Alírio Silva, Pinheiro Rangel, Celso Couto, Nassiro Santos, Sérgio Cid, Gilberto Pinto, Gerson Moraes, Nilton Melo, Rubem Machado.

JUSTIÇA A QUALQUER PREÇO. Brasil/Rio de Janeiro, 1973, 8mm, 36 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, fotografia e edição: David Rangel. Roteiro: Hélio do Soveral. Trilha sonora: Miklós Rózsa. Narração: Cesar Velasco. Elenco: Antônio Diogo, Iramar W. Mendonça, Robson Souza, Paulo Ricardo, Vera Regina, Pinheiro Rangel, Cely Althemira, Antônio França, Cristina Antunes, Sheila Côrtes.

JERÔNIMO, O HERÓI DO SERTÃO. Brasil/Rio de Janeiro, 1996, VHS, 32 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro, fotografia e edição: David Rangel. Trilha sonora: Alfred Newman, Lirio Panicalli, Miklós Rózsa, Lourival Faissal, Getulio Macedo. Elenco: Edson de Oliveira, Wladimir Valladares, Daniele Fontes, Claudio Petris, Jarbas Tavares, Flávia Moraes, Joaquim Petris, Marcos Bedê, Deci Ribeiro, Lucas, Ricardo Fontes, Alcides Silveira, Charlton Heston Moraes, Fátima Ribeiro, Cristina Almeida.

DE JULIO CESAR A JERÔNIMO. Brasil/Rio de Janeiro, 1996, VHS, 32 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro, fotografia, edição e narração: David Rangel. Documentário sobre a produtora Cristo Filmes.

O MAKING OF DE UM ÉPICO SERTANEJO. Brasil/Rio de Janeiro, 1996, VHS, 26 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro, fotografia, edição e narração: David Rangel. Documentário sobre a realização de Jerônimo, o Herói do Sertão.



Notas Complementares




[1] A maioria das informações e opiniões atribuídas a David Rangel neste artigo foram colhidas durante três entrevistas longas com o cineasta, concedidas ao autor, por telefone, em 31 de agosto de 2010, e 15 e 20 de fevereiro de 2011.
[2] David gravou um CD caseiro em 2005 interpretando, num piano elétrico, obras de Miklós Rózsa, seu compositor de trilhas sonoras preferido.
[3] David Rangel era particularmente fascinado por estes filmes e mais tarde adquiriu cópias em 16mm de ambos, além do também mexicano O Mundo dos Vampiros (El Mundo de los Vampiros, 1961) e tantos outros.
[4] O nome varia, ao longo dos anos, do internacional Cristo Films para o aportuguesado Cristo Filmes.
[5] O primeiro filme da série foi O Satânico Dr. No (Dr. No), de 1962, dirigido por Terence Young.
[6] A partir deste filme, David Rangel passou a numerar suas realizações: O Roubo das Jóias é anunciado no letreiro de abertura como sua “segunda superprodução”, padrão que perdurou até seu lançamento mais recente, o faroeste Jerônimo, o Herói do Sertão, sua “sexta superprodução”.
[7] Graças ao mundo de fantasia do cinema, ou a uma incrível distração do cineasta, o narrador continua contando a história mesmo depois de morto!
[8] Freire, Marcius. “Nas cercanias da arte cinematográfica”. In: Santana, Gelson (org.), Cinema de Bordas 2, São Paulo: A Lápis, 2008, pp. 4-13.


[a] Pinheiro Rangel aparece brevemente numa cena de O Homem do Sputnik, passando apressadamente por Oscarito dentro de uma agência da Caixa Econômica. Em Pintando o Sete, interpreta um guarda de presídio, logo na abertura do filme, novamente ao lado de Oscarito; e no filme O Palhaço o Que É?, estrelado por Carequinha e Fred, faz o papel de um entregador de lambretas.
[b] Antes disso, quando tinha quatorze anos, David criou uma agência de detetives com colegas de escola, inspirado no Anjo. O personagem mais tarde foi resgatado por Ivan Cardoso no filme O Escorpião Escarlate: Uma Aventura do Anjo (1990), com Herson Capri no papel do herói e roteiro de Rubens F. Lucchetti.
[c] Esta não foi a primeira referência que fez ao rádio, outra de suas grandes paixões: o prólogo de A Volta do Vampiro usa o áudio da abertura do programa de contos sobrenaturais Incrível! Fantástico! Extraordinário!, que Henrique Foreis Domingues, o ‘Almirante’, apresentou na Rádio Tupi entre 1947 e 1958.
[d] A paixão do cineasta pelo ator foi abordada pelo jornal Última Hora de 6 de agosto de 1978 na reportagem intitulada “David Rangel é o maior fã que Charlton Heston tem no mundo”, que cita o encontro entre fã e ídolo, que estava de passagem pelo Rio de Janeiro, em 19 de abril daquele ano. Na entrevista, Rangel se orgulha, entre outras façanhas, de ter assistido Ben-Hur (1959) nada menos do que 84 vezes no cinema (depois disso a conta subiu para 97).
[e] E não foram apenas seus filmes: David Rangel prestou homenagem às suas paixões cinéfilas também por intermédio dos filhos, todos batizados com nomes de astros do cinema. A primeira a nascer foi Cathy, em 1977, referência a Cathy O’Donnell, de Ben-Hur. A seguir vieram Jeffrey Hunter, nascido em 1980, e Charlton Heston, nascido em 1985. Também teve uma lancha chamada Miklós Rózsa.
[f] A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou um louvável resgate do trabalho de Hélio do Soveral no programa Teatro de Mistério, disponibilizando gratuitamente ao público 316 episódios da série, no formato MP3. Os arquivos de áudio podem ser acessados no endereço eletrônico http://www.tropix.nce.ufrj.br/teatro/. Curiosamente, o episódio utilizado por David Rangel em seu filme não está entre os que foram digitalizados para este acervo.
[g] Um ano depois de Justiça a Qualquer Preço, em 1974, a produtora britânica Amicus lançou A Fera Deve Morrer (The Beast Must Die), de Paul Annett, com o “werewolf break”, uma pausa de trinta segundos para que o espectador tentasse adivinhar a identidade do lobisomem que estava aterrorizando os moradores de uma mansão isolada. Era tarefa quase impossível, pois havia dois lobisomens na história. Todos esses filmes devem tributo ao cineasta estadunidense William Castle, criador dos mais infames “gimmicks” do cinema: em A Trama Diabólica (Homicidal), de 1961, ele instituiu o “fright break” (pausa do medo), que interrompia o filme durante 45 segundos para que os espectadores mais medrosos pudessem abandonar o cinema antes da chocante revelação final.
[h] Jerônimo chegou às páginas das revistas em quadrinhos em 1957, com desenhos de Edmundo Rodrigues e Flavio Colin. Foi levado às telas de cinema em 1972, num longa-metragem produzido, dirigido e protagonizado por Adolpho Chadler. No mesmo ano foi parar na televisão, interpretado por Francisco di Franco numa novela da TV Tupi. O ator repetiria o papel do herói sertanejo em 1984, na nova versão da novela, desta vez no SBT.



3 comentários:

  1. Eu sou o filho de David Rangel! Charlton Heston Moraes Rangel!

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  2. Hj meu pai esta fazendo aniversario!
    Pai, Parabens, Felicidades, mtos anos de vida, saúde e que continue fazendo esses trabalhos com cinema q vc tanto amo...são votos de seu filho Charlton Heston Moraes Rangel e seu neto Gabriel Rangel!! bjus.

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  3. DAVID SOU EU RITA BRANDÃO, QUE SAUDADE, PERDI SEU CONTATO, ME TELEFONA, 26390288, 77502804 2 997846109, ESTOU MUITO EMOCIONADA AO LER TUDO ISTO SOBRE VOCÊ, REVIVI CADA MOMENTO DE NOSSAS VIDAS, CADA PALAVRA ME RECORDAVA TUDO QUE VOCÊ ME MOSTROU SOBRE CINEMA, LEMBREI DE TUDO. ESTOU MUITO FELIZ, GANHEI MINHA NOITE. BEIJOS NO CORAÇÃO.

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