Cinema de bordas
A saga épica da
Cristo Filmes: a paixão radiocinéfila de David Rangel
Carlos Primati
“Assumo que sou
vampiro e chupo filmes para renovar e limpar meu sangue.”
Jairo Ferreira
Ele nunca quis fazer filmes para
ficar rico ou famoso e jamais acreditou que a vida de artista poderia ser seu
ganha-pão. Mesmo assim, o carioca David Rangel, bancário aposentado, cinéfilo
incansável e cidadão bem de vida, guarda muitas semelhanças com os chamados
“cineastas de borda”, pessoas como Afonso Brazza, Simião Martiniano e Seu
Manoelzinho, um bombeiro, um camelô e um ajudante de pedreiro que, à sua
maneira, decidiram pegar uma câmera e começar a fazer filmes com propostas
simples e originais. Outras características aproximam Rangel de seus colegas notórios,
a começar pelo conhecimento restrito da produção cinematográfica mundial, com
seu interesse principal – também ecoando a predileção dos demais ‘bordistas’ –
voltado ao cinema comercial de grande visibilidade, filmes do tipo
‘arrasa-quarteirão’. Tampouco acompanha a produção nacional; mesmo tendo
iniciado as atividades na década de 1960, desconhece, por exemplo, Jairo
Ferreira, Rogério Sganzerla e Ivan Cardoso[1],
que na mesma época também se aventuravam em produções semi-amadoras em 8mm. Mas
sabe quem é Júlio Bressane, diretor de Matou
a Família e Foi ao Cinema (1969), outro que começou na bitola pequena, e de
quem David gosta de citar a frase “Filmo para os amigos”, adotando-a como um
lema de sua atividade.
Para os amigos e com os amigos. O esquema de esforço
coletivo, contando com a colaboração espontânea e não-remunerada de colegas e
vizinhos, também contribui para filiar os filmes de David Rangel ao cenário das
bordas, onde a mão de obra profissional é quase inexistente. São fitas
realizadas com recursos limitados, por um cineasta jovem e autodidata, com mais
empolgação do que treinamento teórico: sua gramática de cinema foi absorvida
meramente na condição de observador. Porém, seus filmes demonstram a capacidade
do diretor de, à sua maneira particular, transformar nada em alguma coisa.
Qualidades intrínsecas, como bem sabemos, dos ‘bordistas’ em geral, de quem nos
interessa saber tanto como quanto o quê e porquê. Muitas vezes, mais o como
do que qualquer outra coisa.
Um detalhe, entretanto, isola
David Rangel de praticamente todos os demais cineastas de borda: seus primeiros
filmes foram feitos mais de trinta anos antes que Brazza, Martiniano,
Manoelzinho e tantos outros entuasiastas da produção amadora começassem a
filmar. O quando passa agora a ser mais
uma variável a ser levada em conta nesse complexo cenário de um cinema quase
invisível.
Filho único de uma família de
classe-média do bairro do Sampaio, na zona norte do Rio de Janeiro, David
Caldas Rangel nasceu em 23 de outubro de 1946. Desde cedo demonstrou interesse
por artes cênicas e música erudita. A admiração pelas obras de Beethoven,
Tchaikovsky e Verdi o levaram a estudar piano quando tinha quinze anos, mas não
chegou a levar a atividade a sério[2].
A dramaturgia surgiu em sua vida por influência do pai, Alcyr Pinheiro Rangel,
engenheiro e professor que nutria grande paixão por teatro, chegando a
interpretar nos palcos o monólogo As Mãos
de Eurídice, de Pedro Bloch. Escreveu a peça Castelo de Areia, na qual também atuou e que mais tarde foi
publicada em forma de livro. Pinheiro Rangel tentou também o cinema, onde
contracenou com Oscarito e Carequinha em três importantes produções da
Atlântida: O Homem do Sputnik, Pintando o Sete e O Palhaço o Que É?, todos de 1959. Porém, seu envolvimento com a
sétima arte resumiu-se a essas breves aparições[a].
David gostava de imitar o que o
pai fazia em cima do palco e interpretava trechos de Castelo de Areia em reuniões de amigos e familiares. Na mesma
época, quando tinha quatorze anos, passou a frequentar uma loja de artigos e
fotos de cinema no bairro do Méier. Visitava o local quase que diariamente,
quando voltava da escola, e logo fez amizade com o dono do estabelecimento.
Este lhe emprestou uma câmera filmadora de 8mm, com a qual David cometeu seus
primeiros filmes caseiros. O pai, que não gostava da idéia de o menino usar
equipamento emprestado, decidiu lhe comprar uma câmera. Os épicos históricos
estavam em moda na época; assim, a primeira realização de David com o novo
maquinário foi a história de Júlio César, filmada entre 1962 e 63. O filme era
mudo, em preto e branco, repleto de cenas com lutas de espada de madeira e
efeitos visuais razoáveis para uma produção dessa natureza. Havia até uma cena
romântica feita a cores: um beijo entre David, no papel de Júlio César, e sua
namorada Lélia Campos, como Cleópatra.
A primeira experiência fílmica
deixou David motivado o bastante para ele imediatamente partir para o próximo
projeto. Sua idéia inicial foi refazer Júlio
César, desta vez com mais cenas coloridas, e ele chegou a filmar alguns
rolos em meados de 1964. Porém, à esta altura, o garoto já estava se
interessando por outros gêneros – e, assim, decidiu mudar radicalmente o estilo
de sua próxima realização.
Conde Lavud: a volta do que não foi
No início da década de 1960,
filmes mexicanos com vampiros, lobisomens e outros monstros eram muito
populares entre o público juvenil que frequentava as sessões duplas vespertinas
dos cinemas de segunda classe. Entre os mais famosos desse ciclo estavam O Vampiro (El Vampiro) e O Ataúde do
Vampiro[3] (El Ataúd del Vampiro), ambos de 1957,
protagonizados por Germán Robles no papel do Conde Karol de Lavud. Foi a
inspiração necessária para o surgimento de A
Volta do Vampiro (1964), filme de curta-metragem, em preto e branco, que
marca o início do que podemos chamar de ‘fase clássica’ de David Rangel, quando
ele começou a desenvolver seus projetos de maneira mais formal, escrevendo o
roteiro, cuidando de detalhes da pré-produção e bolando os efeitos especiais.
Antes, porém, David decidiu
organizar a empresa. Precisava de um nome para sua companhia produtora, algo
grandioso, imponente, épico. Surgiu então o nome Cristo Filmes[4];
segundo ele mesmo, sem saber como ou por que. “Apenas soava bem aos ouvidos”,
argumenta. A logomarca, concebida pelo próprio David, consiste na frase “Cristo
Filmes apresenta”, com o desenho de uma câmera de 8mm ao fundo e quatro
holofotes posicionados nos extremos da tela. A trilha escolhida foi a famosa
fanfarra composta por Alfred Newman para a vinheta de abertura dos filmes da
Twentieth Century-Fox.
O próprio David aparece no papel
do vampiro, que aqui também se chama Conde Karol de Lavud, como na duologia
mexicana, denunciando de maneira inequívoca sua inspiração direta. A trama,
apesar de pobre, sem aprofundamento ou complexidade nas motivações dos
personagens, não é totalmente desprovida de graça e charme; demonstra uma
compreensão dos clichês associados aos filmes de horror e aplica da melhor
maneira possível essas regras. A direção mostra lampejos de criatividade; a
câmera treme nervosamente e às vezes busca em vão algum personagem que teima em
fugir de quadro, mas David mostra uma surpreendente noção instintiva de plano,
contraplano, plano detalhe, subjetividade e continuidade, montando e editando
todo o filme diretamente na câmera.
Uma inovação notável que marca A Volta do Vampiro é o uso, pela
primeira vez, de um sistema de sonorização inventado pelo próprio cineasta.
Como os filmes em 8mm eram mudos, David decidiu gravar a trilha de áudio,
incluindo narração, música e efeitos sonoros, em fitas de rolo. Não havia
diálogos no filme, o que permitia uma pequena margem de erro na sincronia de
som e imagem, mas ainda assim o processo era problemático e exigia atenção
constante ao lado do projetor e do gravador, para realizar eventuais ajustes. O
cineasta voltaria a usar esse sistema, fazendo alguns aprimoramentos, em todas
as suas próximas realizações.
James Bond à brasileira
O interesse de David por cinema não
parava de crescer. Ao encanto por filmes épicos e de horror, logo somou-se o
fascínio por aventuras de espionagem, gênero que explodiu nas telas por meio
das produções estreladas por Sean Connery no papel do espião James Bond[5],
o 007. O resultado foi O Roubo das Jóias[6]
(1965), curta-metragem de 30 minutos filmado em preto e branco, em 8mm.
Novamente contou com sonorização artificial e narração de Celso Couto. A
inspiração em James Bond é assumida, inclusive fazendo uso de sua conhecida
música-tema; entretanto, o espião inglês não foi a única referência do
cineasta: o detetive Anjo[b],
criado e interpretado por Álvaro Aguiar no rádio[c]
foi outra fonte utilizada na elaboração da trama. O roteiro mistura
indistintamente – e de maneira bastante confusa – elementos de mistério,
assassinato e conspiração, incluindo um escritório da Interpol instalado no Rio
de Janeiro e um enigmático agente americano chamado John Smith; além,
obviamente, de um roubo de jóias e muita violência.
Tanto A Volta do Vampiro quanto O
Roubo das Jóias identificam nominalmente a cidade do Rio de Janeiro como
cenário de suas tramas. Isso possibilitou que os curtas participassem do
Festival de Cinema Amador JB-Mesbla, promovido pelo Jornal do Brasil e pela
loja de departamentos Mesbla. O regulamento exigia que a cidade fosse o cenário
ou tema do filme. O periódico comentou a inscrição dos filmes numa reportagem
do dia 2 de abril de 1965, na qual cita os realizadores David Caldas Rangel,
Paulo Ernesto Moreira e Antônio Carlos Bragança e afirma: “Os roteiros dos dois
filmes foram baseados em histórias combinadas após longas conversas entre os
três cineastas iniciantes que, nas filmagens, contaram com a colaboração da sua
rua em Sampaio, cujos habitantes ajudaram nas tomadas de cena, trabalhando como
atores ou apenas incentivando”. O criativo sistema de sonorização desenvolvido
por David foi motivo de controvérsia no festival: o mesmo artigo prossegue
dizendo “o regulamento (…) exige que o som venha gravado na própria cópia do
filme, fato capaz de obrigar a inscrição dos dois filmes na categoria dos
mudos”. A polêmica resultou na retirada dos filmes do evento, quando David se
revoltou com a decisão que seus filmes seriam categorizados como mudos.
O diretor voltou a se aventurar
pelo mundo do sobrenatural com o curta-metragem O Livro da Vingança (1966), sobre uma criança que sofre uma
maldição diabólica e, ao chegar à idade adulta, transforma-se num vampiro
sanguinário e impiedoso. O próprio David aparece no papel do monstro, num filme
dinâmico, cheio de situações extravagantes e exageradas, com mortes,
investigações policiais e perseguições que terminam no alto de uma igreja em
construção. A inspiração veio do filme mexicano O Mundo dos Vampiros (El
Mundo de los Vampiros, 1961), do qual pegou emprestado o nome do vilão e o
personagem de um serviçal corcunda e aleijado que acompanha o monstro em seus
atos horrendos. O filme, novamente contando com narração em off[7]
gravada em fitas de rolo, tem maior coerência e clareza do que os anteriores.
Foi o último filme de Rangel a contar um enredo original. Seus próximos
projetos promoveriam uma inusitada combinação de rádio e cinema.
O Livro da Vingança encerra o que podemos considerar a fase juvenília de David Rangel. Seu próximo filme
chegaria às telas somente cinco anos mais tarde, mas a demora seria mais do que
justificada. Na época com quase 21 anos, ele precisava de um emprego, pois
nunca havia considerado a hipótese de obter seu sustento a partir dos filmes
que fazia. Era comum em meio às famílias de classe-média cariocas daquela época
incentivar os filhos a prestar concurso para cargos públicos, como uma maneira
de garantir um rendimento tranquilo para toda a vida. David entrou para o Banco
Boavista em 1967, onde trabalhou até 1970. Depois foi para o BEG (Banco do
Estado da Guanabara), que se tornaria o BERJ (Banco do Estado do Rio de
Janeiro) e então Banerj, onde permaneceu até se aposentar. Teve um único
emprego durante toda a vida, porém jamais deixou de lado sua paixão cinéfila.
Jesus Cristo em oito milímetros
As incursões do diretor em gêneros
como o horror, o mistério e a espionagem não o demoveram de sua devoção aos
épicos religiosos, que começara ainda na infância, quando viu Marcelino Pão e Vinho (Marcelino Pan y Vino, 1955) e ficou
intrigado com a fascinante imagem da aparição de Jesus Cristo na cruz. A
vontade de fazer um filme sobre a vida de Cristo surgiu em 1962, quando foi
lançado O Rei dos Reis (King of Kings), estrelado por Jeffrey
Hunter no papel do Salvador. Àquela altura, Rangel assistira a praticamente
todos os grandes filmes do gênero: O
Mártir do Calvário (El Mártir del
Calvario, 1952), O Manto Sagrado
(The Robe, 1953), Quo Vadis (1951), Os Dez Mandamentos (The Ten
Commandments, 1956), El Cid
(1961), Ben-Hur (1959) e o mudo A Vida de Cristo (La Vie et la Passion de Jésus Christ, 1903), atração cristã
obrigatória em toda Semana Santa.
Também fazia muito sucesso na
época a radiodramatização A Vida de Nosso
Senhor Jesus Cristo, produzida pela Rádio Nacional, um ambicioso épico com
mais de duas horas e meia de duração escrito por Guioseppe Ghiaroni. O programa
foi ao ar originalmente em 27 de março de 1959 e passou a ser reprisado
anualmente no período da Semana Santa. Contava com as vozes de Hemilcio Froes (José),
Amélia de Oliveira (Maria), Luiz Manoel (Jesus menino), Roberto Faissal (Jesus
adulto), Mario Lago (Herodes), Rodolfo Mayer (Satanás) e grande elenco. Depois
de conseguir uma gravação do programa, David começou a cuidar dos preparativos
de seu projeto mais desafiador; sua fixação por épicos religiosos e por seus
astros preferidos, Charlton Heston[d]
e Jeffrey Hunter, finalmente renderia frutos[e].
O filme recebeu o título O Senhor do Universo, ainda na bitola
8mm e totalmente colorido, mas desta vez com um sistema de sonorização mais
complicado, pois pela primeira vez ele filmaria personagens dialogando em cena.
A técnica, peculiar e possivelmente inédita, assemelha-se ao processo de
produção de filmes animados, nos quais os diálogos são gravados primeiro para
que depois seja desenvolvido o processo de animação, incluindo os movimentos
labiais. Ou, numa analogia mais direta, ao processo comumente adotado na
gravação de videoclipes musicais, nos quais o modelo mais corriqueiro consiste
no artista dublar a própria interpretação, utilizando a canção em playback, para posterior montagem e
mixagem do áudio com o material filmado. A projeção também era um problema; o
próprio David explica melhor o complicado funcionamento da geringonça: “o
gravador (…) não estava interligado ao projetor, tendo que haver vários pontos
chaves na gravação que serviam de sincronismo para cada nova cena; a fim de que
a imagem estivesse sempre em sintonia com o som, era necessário que o projetor
contivesse um variador de velocidade e com pequenas variações pudesse estar
sempre junto com o som”.
Decidido a levar às últimas
consequências o conceito de ‘superprodução épica’, o cineasta não economizou em
figurinos, objetos de cena, animais e locações. Iniciou os preparativos ainda
em 1966, convocou uma verdadeira legião de figurantes, todos com incrível
disposição para colaborar, e escalou um grande elenco para os papéis
importantes. O eleito para fazer o papel principal foi Iramar W. Mendonça, na
época com 23 anos, que se mostrou capacitado para a espinhosa tarefa. Sua
presença em cena esbanja carisma, apesar da incômoda limitação de atuar por
meio de gestos e mímica. As filmagens começaram em 22 de outubro de 1967, na
véspera do 21º aniversário do diretor, quando foi gravada a cena do batismo de
Jesus Cristo, e prosseguiram até o início de 1970.
A empreitada não ficou imune
sequer a um daqueles embaraçosos acidentes de percurso típicos da produção
amadora, feita à base de improviso e adaptação. O episódio foi parar nas
páginas do jornal A Notícia, em 4 de dezembro de 1967, com o título “Senhor do
Universo foi parar na polícia”, relatando um incidente ocorrido quando estava
sendo filmada a cena de José e Maria saindo de Jerusalém. Depois de esperar em
vão o homem encarregado de levar ao local o burro necessário para a cena, a
equipe de filmagem decidiu usar um pônei que avistou na vizinhança. “O dono do
pônei, armado de pau, chegou e, sem estar fardado de soldado de Herodes
investiu contra José e Maria e contra toda a equipe, chamando-os de ladrões”,
explica a reportagem, sem disfarçar a graça que via na situação. A turma foi
parar na delegacia, onde o mal-entendido foi desfeito e tudo terminou em
confraternização.
O Senhor do Universo estreou em grande estilo em 9 de janeiro de 1971, num
espaçoso salão da escola Sara Moraes, em sessão lotada exclusiva para
convidados. Pouco mais de dois meses depois, no domingo da Semana Santa, o
filme foi exibido no Cine Nazaré, localizado ao lado da igreja Nossa Senhora da
Conceição, no Engenho Novo. Foram três sessões, às 16, 18 e 20h, com ocupação
total da sala e direito a porteiro, lanterninha e vendedor de ingressos. O
filme, com quase duas horas de duração, contava inclusive com um intervalo, à
maneira dos épicos hollywoodianos. David, que estava acostumado a exibir seus
filmes em escolas e na casa de amigos ou parentes, pela primeira vez ganhou
algum dinheiro com cinema. O lucro foi distribuído entre a equipe técnica e
elenco; sobrou até um dinheirinho para ajudar a empregada da família a ajeitar
o barraco, derrubado por uma ventania.
Faz-se necessário ressaltar que a
predileção de David Rangel por filmes religiosos não tem relação com sua fé ou
crença particular. O cineasta faz questão de deixar claro que não é religioso e
não segue qualquer doutrina. Frequentava a igreja católica quando garoto, por
influência dos pais, chegando a fazer a primeira-comunhão. Acreditava em tudo
que aprendia da Bíblia – e também acreditava em vampiros. “Eu era um menino
mimado; aos 15 anos, tinha mentalidade de 11 ou 12”, revela Rangel,
acrescentando que a descrença na religião foi gradual, devido a uma série de
decepções e à hipocrisia de algumas pessoas. A paixão por épicos, entretanto,
nunca diminuiu. “Acho tudo bonito”, entusiasma-se; e explica como foi sua
abordagem em O Senhor do Universo:
“Filmei como está no livro, independentemente de acreditar ou não”.
Os últimos ruídos do rádio
O cineasta voltou a filmar apenas
três anos depois, adaptando um conto policial gravado do rádio. A fonte
escolhida foi uma radionovela de suspense escrita por Hélio do Soveral –
profissional prolífico e respeitado na esfera radiofônica – e levada ao ar pela
Rádio Nacional no Teatro de Mistério[f],
programa de muita popularidade que atravessou as décadas de 1960 e 70 e chegou
à metade dos anos 80. A série tinha como protagonista o inspetor Santos, vivido
em carne e osso no filme por Antônio Diogo, novamente no processo de mímica
labial para posteriormente se encaixar com o áudio pré-gravado.
Justiça a Qualquer Preço (1973) conta a história de uma vulgar cantora de cabaré
morta violentamente ao voltar para casa. Um grande mistério é feito quanto à
identidade do assassino, revelado somente no final, de maneira imprevisível.
Pouco antes do desfecho da história, o filme é interrompido para que o espectador
tenha a oportunidade de desvendar o crime antes da derradeira revelação. A
idéia foi copiada do filme E Não Sobrou
Nenhum (Ten Little Indians,
1965), de George Pollock, que incluia o “whudunit
break”, uma pausa de sessenta segundos para que o espectador pudesse
adivinhar quem é o culpado[g].
O prólogo e o epílogo, escritos pelo próprio David Rangel e narrado por Cesar
Velasco, foram inspirados no filme Cidade
Nua (The Naked City, 1948), de
Jules Dassin.
O filme apresenta uma sensível
melhoria de David no domínio da técnica, na edição e montagem, enquadramento e
direção de atores. É curioso observar como cada filme seu reflete a faixa
etária na qual ele se inseria; nos primeiros, os atores são todos adolescentes,
que retornam como jovens adultos nos filmes posteriores. Justiça a Qualquer Preço destoa dos demais por apresentar adultos e
pessoas de meia-idade nos principais papéis, o que propicia uma maior
credibilidade à trama.
Os próximos vinte anos foram uma
sucessão de frustrações para o cineasta. Em 1976 tentou recriar A Última Carroça (The Last Wagon), faroeste clássico dirigido por Delmer Daves em
1956. A versão brasileira se chamaria A
Sangue-Frio e ele chegou a escolher as locações numa fazenda, onde gravou
algumas cenas para testar a lente CinemaScope, usando uma câmera de 16mm.
Desistiu quando percebeu que não conseguiria filmar sem uma equipe técnica
competente. Cinco anos depois, outra tentativa e nova decepção, desta vez a
refilmagem de Psicose (Psycho, 1960), que se chamaria Obsessão. O ator Robson Souza, antigo
colaborador do cineasta, faria o papel de Norman Bates, mas David acabou
desistindo devido ao desinteresse de parte do elenco em decorar os diálogos –
ainda no sistema de mímica para combinar com o áudio da dublagem em português
do filme original.
Quando o diretor finalmente
conseguiu voltar à atividade fílmica, o cenário havia mudado de maneira
significativa. Filmes em 8mm, Super-8 ou 16mm eram coisa do passado e a bitola
profissional em 35mm era um luxo acessível somente aos profissionais de cinema.
Em compensação, câmeras de vídeo no formato VHS eram facilmente encontradas no
mercado, direcionadas principalmente ao realizador amador. A maioria das
pessoas tinha essas câmeras em casa para registrar festas de aniversário,
casamentos, passeios turísticos e outras situações familiares cotidianas.
Outros aproveitavam a urgência da fita magnética para brincar de fazer cinema.
Novelas de rádio e histórias de
faroeste também estavam fora de moda em 1994, quando David teve a idéia de
fazer uma adaptação de Jerônimo, o Herói
do Sertão, baseado na criação radiofônica de Moysés Weltman. O programa,
com Milton Rangel dublando a voz do personagem central, foi ao ar pela primeira
vez em 1953 pela Rádio Nacional. Jerônimo ficou quatorze anos no ar e foi adaptado
para histórias em quadrinhos, televisão e cinema[h].
A versão feita por David Rangel tem Edson de Oliveira como Jerônimo e Wladimir
Valladares no papel de seu fiel acompanhante Moleque Sacy. O áudio foi extraído
de um LP lançado ainda na década de 1950, contendo o episódio Jerônimo Faz Justiça. O diretor
aproveitou também trechos do episódio Morte
ao Amanhecer no prólogo.
As filmagens foram realizadas em
Paty do Alferes, cidade serrana localizada a 120 quilômetros da capital
fluminense, em locações naturais e uma casa de campo. Figurinos foram
confeccionados especialmente para a produção, reproduzindo com a máxima
fidelidade o visual consagrado nas histórias em quadrinhos. A trama do filme,
deliciosamente antiquada e com direito aos estalos característicos do disco de
vinil no áudio, envolve a morte misteriosa de um rico dono de terras. O filme
foi lançado diretamente em fita de vídeo em 1996, mas teve pouca distribuição,
limitando-se aos amigos e conhecidos da equipe técnica e elenco. O filme, com
pouco mais de meia hora de duração, é acompanhado pelo programa O Making Of de um Épico Sertanejo, que
detalha os bastidores desta apaixonada empreitada. Nesse mesmo ano Rangel
realizou o documentário De Júlio César a
Jerônimo, no qual faz um panorama detalhado de toda sua carreira.
Loucura cinéfila
David Rangel assume ser adepto do
estilo de imitar cenas consagradas de outros filmes, o que considera como
reconhecimento e homenagem aos mestres do cinema, citando como exemplo o
diretor Brian DePalma, notório imitador de Alfred Hitchcock. Parece, com isso,
buscar uma maneira de validar seu processo criativo. Se DePalma copia, por que
ele não pode fazer o mesmo? Entretanto, tal procedimento não inviabiliza o
conceito de que seus filmes também possam ser ‘autorais’; muito pelo contrário:
justamente por serem derivados de obras consagradas, é possível acompanhar de
maneira quase didática o processo pelo qual tais idéias são levadas às telas e
o quanto se deturpam nesse percurso, revelando mais sobre o realizador do que
talvez ele se dê conta.
Seus filmes, acima de tudo, pintam
um retrato fiel das descobertas cinemáticas feitas pelo diretor a cada período:
“Quando fiz filmes de vampiro, eu conhecia apenas os mexicanos, por isso tive
que copiá-los”, ele explica. Os clássicos filmes de vampiro da produtora
inglesa Hammer, estrelados por Christopher Lee, eram proibidos para menores de
18 anos no Brasil. David tinha 14 ou 15 anos e não pôde vê-los. Só foi
assisti-los mais tarde, na televisão. “Os mexicanos também eram proibidos, mas
eu frequentava um cinema de padres e eles deixavam a gente entrar”, revela.
Uma tentativa de análise mais
profunda quanto a conteúdo, estilo ou estética na obra de David Rangel
desviaria o foco de seu real significado. Seus filmes não existem para
expressar novas idéias ou expor uma visão artística particular. Seu propósito
único é o puro e ingênuo exercício da cinefilia transmutado em criação
artística amadora, sem maiores ambições. Deixando a posição de observador
passivo comumente reservada ao cinéfilo tradicional, ele se dispôs a recriar
obras prediletas e reimaginar personagens marcantes do rádio e da tela
prateada, muitas vezes concebendo composições imagéticas para criações
restritas ao campo sonoro, como no caso das radionovelas.
Seus filmes tiveram um breve
momento nos holofotes quando O Senhor do
Universo e Jerônimo foram
selecionados para a Mostra Loucos por Cinema, do Festival do Rio de 2003. O
evento, apresentado por José Wilker, diretor-presidente da RioFilme, contemplou
também outros cineastas de bordas: o pernambucano Simião Martiniano, o goiano
Martins Muniz e o candango Afonso Brazza. “O encanto desses filmes é a
precariedade”, comentou Wilker ao jornal O Dia, explicando: “Como não têm
compromisso com retorno comercial ou sucesso com a crítica, o universo e o
imaginário deles estão muito presentes”. Cada filme teve direito a quatro
sessões em dias diferentes, sempre no cinema Estação Botafogo 3.
A imprensa carioca não desperdiçou
a oportunidade de explorar o exotismo de Rangel e toda a trupe. O
desconhecimento sobre o assunto era flagrante: o repórter Renato Lemos, em
artigo publicado em 3 de outubro de 2003 no Caderno B do Jornal do Brasil, não
pensou duas vezes e apelidou David de “o Ed Wood do Riachuelo”. O texto tenta
fazer graça e altera o surrado jargão do cinema-improviso feito no Brasil para
“uma idéia maluca na cabeça, uma câmera nas coxas e um zero no saldo bancário”.
O jornalista conclui definindo os filmes de David Rangel como “feitos de idéias
mirabolantes, macetes, ingenuidade e alguma canastrice”.
O cineasta externou sua opinião
sobre a crítica de cinema no material de divulgação intitulado Nós no Festival do Rio 2003: “[n]a
maioria das vezes [são] originadas de quem sequer sabe ligar um filmador ou um
projetor; porém, pegar uma caneta para escrever asneiras é bem mais fácil e
qualquer um faz”. No mesmo texto, David define a natureza amadora como alguém
que “o faz com gosto, com carinho, por paixão, sabendo que não irá auferir
lucros com seu trabalho, e por isso mesmo dá o que há de mais puro de si”.
David Rangel preenche com exatidão
quase acadêmica as características delineadas por Marcius Freire[8]
em sua precisa descrição das idiossincrasias que formam um cineasta de borda,
ao ponto de tornar-se dispensável enumerá-las aqui. O que podemos acrescentar é
que, diante da (re)descoberta da obra do ‘bordista’ carioca, é possível ajuizar
que esse fenômeno independe de época; posto que já sabíamos não estar restrito
a determinadas classes sociais e/ou localizações geográficas específicas. Um
cinema incapaz de penetrar no núcleo, mas livre de fronteiras, solto no espaço
e no tempo, desprovido de preconceitos ou vícios de linguagem.
Pouco, talvez nada, foi escrito
sobre os filmes de David Rangel além da atenção efêmera que lhe foi dispensada
em ocasião do Festival do Rio, em 2003. Quatro de seus seis filmes não são
exibidos ao público desde a época de seus lançamentos originais, há 40, 45,
quase 50 anos. David se diz desinteressado pelo cinema moderno; odeia misturas
de gêneros, repudia coisas como Entrevista
com o Vampiro e Crepúsculo (“O
único vampiro gay que aceito é o do Polanski!”) ou sagas de fantasia repletas
de efeitos digitais como O Senhor dos
Anéis e Harry Potter. Foi ao
cinema ver Os Mercenários (The Expendables, 2010), de Sylvester
Stallone, apenas para ver se reconheceria os cenários do Rio de Janeiro. Torce
pelo Flamengo, sem dar muita bola se o time ganha ou perde, gostava de ver
Bruce Lee em ação e admira o lutador Anderson Silva – mas odeia judô. Está
perdendo a vontade de fazer fitas, mas há mais de vinte anos pensa em filmar
uma história de vampiro que se passa dentro de um ônibus.
Talvez tenha chegado a hora de
conhecer – e reconhecer – aquele que pode ser considerado o precursor do que
chamamos “cinema de bordas”.
Referências bibliográficas
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da Rádio Nacional. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007.
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de Invenção. São Paulo: Limiar, 2000.
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2006.
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SANTANA, Gelson (org.). Cinema de Bordas 2. São Paulo: A Lápis, 2008.
SILVA NETO, Antônio Leão da. Dicionário de Filmes Brasileiros: Longa-Metragem. São Paulo: Edição
do Autor, 2002.
Jornais
“Júri do Festival de Cinema Amador JB-Mesbla vê hoje dois
primeiros inscritos”. In: Jornal do
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“Senhor do Universo foi parar na polícia”. In: A Notícia, 4 de dezembro de 1967.
“David Rangel é o maior fã que Charlton Heston tem no
mundo”. In: Última Hora, 6 de agosto
de 1978.
“Cinema de gente comum”. In: O Dia, 21 de setembro de 2003.
“Loucos por cinema”. In: Jornal do Brasil, Caderno B, 3 de outubro de 2003.
Fichas técnicas dos filmes dirigidos
por David Rangel
JÚLIO CÉSAR. Brasil/Rio de Janeiro, 1963, 8mm, aprox. 15
min. Produtora: sem produtora. Produção,
direção, roteiro e edição: David Rangel. Fotografia: Paulo E. Moreira. Elenco:
David Rangel, Antônio Bragança, Paulo Moreira, Lélia Campos, Robson Souza,
Celso Marins, Carlos Marins, Renato Alfaia. Existem apenas fragmentos deste
filme.
A VOLTA DO VAMPIRO. Brasil/Rio de Janeiro, 1964, 8mm, 26
min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição:
David Rangel. Fotografia: Paulo E.
Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa.
Narração: Celso Couto. Elenco: Antônio Bragança, Paulo
Moreira, David Rangel, Renato Moreira, Norbim Pereira, Márcio Cesar, Celso
Couto, Teresa Pedrosa, Eliana Bragança, Maria Pereira, Josemar S. Pinto.
O ROUBO DAS JÓIAS. Brasil/Rio de Janeiro, 1965, 8mm, 30
min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição:
David Rangel. Fotografia: Paulo E.
Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa.
Narração: Celso Couto. Elenco: David Rangel, Lélia Campos,
Paulo Moreira, Norbim Pereira, Antônio Bragança, Eliana Demarco, Celso Couto,
Renato Moreira, Aleixo Lopes, Max Martins.
O LIVRO DA VINGANÇA. Brasil/Rio de Janeiro, 1966, 8mm, 23 min.
Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro e edição:
David Rangel. Fotografia: Paulo E.
Moreira. Trilha sonora: Miklós Rózsa,
Gustavo Cezar Carrión, Tchaikovsky. Narração:
Paulo Moreira. Elenco: David Rangel,
Reinaldo Silveira, Fátima Silveira, Dayse Miranda, Paulo Moreira, Aleixo Lopes,
Nelson Ferreira, Zoraida Lozada, Maria Roza, Eliana Bragança, Antônio Bragança,
Arlington Barbosa, Arnon Barbosa, Celso Couto, Ivanir Ferreira, Renato Moreira.
O SENHOR DO UNIVERSO. Brasil/Rio de Janeiro, 1970, 8mm,
101 min. Produtora: Cristo Filmes. Produção, direção, roteiro, fotografia e
edição: David Rangel. Trilha sonora:
Miklós Rózsa. Narração: Celso Couto.
Elenco: Iramar W. Mendonça, Ary
Silva, Adilson Miguel, Paulo Frias, Fátima Costa, Antônio Bragança, Sérgio
Santana, Robson Souza, José Lessa, Maury Cardoso, Firmino Rocha, Nelson
Ferreira, Angela Guerra, Alírio Silva, Pinheiro Rangel, Celso Couto, Nassiro
Santos, Sérgio Cid, Gilberto Pinto, Gerson Moraes, Nilton Melo, Rubem Machado.
JUSTIÇA A QUALQUER PREÇO. Brasil/Rio de Janeiro, 1973,
8mm, 36 min. Produtora: Cristo Filmes.
Produção, direção, fotografia e edição:
David Rangel. Roteiro: Hélio do
Soveral. Trilha sonora: Miklós Rózsa.
Narração: Cesar Velasco. Elenco: Antônio Diogo, Iramar W.
Mendonça, Robson Souza, Paulo Ricardo, Vera Regina, Pinheiro Rangel, Cely
Althemira, Antônio França, Cristina Antunes, Sheila Côrtes.
JERÔNIMO, O HERÓI DO SERTÃO. Brasil/Rio de Janeiro, 1996,
VHS, 32 min. Produtora: Cristo Filmes.
Produção, direção, roteiro, fotografia e
edição: David Rangel. Trilha sonora:
Alfred Newman, Lirio Panicalli, Miklós Rózsa, Lourival Faissal, Getulio Macedo.
Elenco: Edson de Oliveira, Wladimir
Valladares, Daniele Fontes, Claudio Petris, Jarbas Tavares, Flávia Moraes,
Joaquim Petris, Marcos Bedê, Deci Ribeiro, Lucas, Ricardo Fontes, Alcides
Silveira, Charlton Heston Moraes, Fátima Ribeiro, Cristina Almeida.
DE JULIO CESAR A JERÔNIMO. Brasil/Rio de Janeiro, 1996,
VHS, 32 min. Produtora: Cristo Filmes.
Produção, direção, roteiro, fotografia,
edição e narração: David Rangel. Documentário sobre a produtora Cristo Filmes.
O MAKING OF DE UM ÉPICO SERTANEJO. Brasil/Rio de Janeiro,
1996, VHS, 26 min. Produtora: Cristo
Filmes. Produção, direção, roteiro,
fotografia, edição e narração: David Rangel. Documentário sobre a
realização de Jerônimo, o Herói do Sertão.
Notas Complementares
[1] A maioria das informações e
opiniões atribuídas a David Rangel neste artigo foram colhidas durante três
entrevistas longas com o cineasta, concedidas ao autor, por telefone, em 31 de
agosto de 2010, e 15 e 20 de fevereiro de 2011.
[2] David gravou um CD caseiro em 2005
interpretando, num piano elétrico, obras de Miklós Rózsa, seu compositor de
trilhas sonoras preferido.
[3] David Rangel era particularmente
fascinado por estes filmes e mais tarde adquiriu cópias em 16mm de ambos, além
do também mexicano O Mundo dos Vampiros
(El Mundo de los Vampiros, 1961) e
tantos outros.
[4] O nome varia, ao longo dos anos,
do internacional Cristo Films para o aportuguesado Cristo Filmes.
[5] O primeiro filme da série foi O Satânico Dr. No (Dr. No), de 1962, dirigido por Terence Young.
[6] A partir deste filme, David Rangel
passou a numerar suas realizações: O
Roubo das Jóias é anunciado no letreiro de abertura como sua “segunda
superprodução”, padrão que perdurou até seu lançamento mais recente, o faroeste
Jerônimo, o Herói do Sertão, sua
“sexta superprodução”.
[7] Graças ao mundo de fantasia do
cinema, ou a uma incrível distração do cineasta, o narrador continua contando a
história mesmo depois de morto!
[8] Freire, Marcius. “Nas cercanias da
arte cinematográfica”. In: Santana, Gelson (org.), Cinema de Bordas 2, São Paulo: A Lápis, 2008, pp. 4-13.
[a] Pinheiro Rangel aparece brevemente
numa cena de O Homem do Sputnik,
passando apressadamente por Oscarito dentro de uma agência da Caixa Econômica.
Em Pintando o Sete, interpreta um
guarda de presídio, logo na abertura do filme, novamente ao lado de Oscarito; e
no filme O Palhaço o Que É?,
estrelado por Carequinha e Fred, faz o papel de um entregador de lambretas.
[b] Antes disso, quando tinha quatorze
anos, David criou uma agência de detetives com colegas de escola, inspirado no
Anjo. O personagem mais tarde foi resgatado por Ivan Cardoso no filme O Escorpião Escarlate: Uma Aventura do Anjo
(1990), com Herson Capri no papel do herói e roteiro de Rubens F. Lucchetti.
[c] Esta não foi a primeira referência
que fez ao rádio, outra de suas grandes paixões: o prólogo de A Volta do Vampiro usa o áudio da
abertura do programa de contos sobrenaturais Incrível! Fantástico! Extraordinário!, que Henrique Foreis
Domingues, o ‘Almirante’, apresentou na Rádio Tupi entre 1947 e 1958.
[d] A paixão do cineasta pelo ator foi
abordada pelo jornal Última Hora de 6 de agosto de 1978 na reportagem
intitulada “David Rangel é o maior fã que Charlton Heston tem no mundo”, que
cita o encontro entre fã e ídolo, que estava de passagem pelo Rio de Janeiro,
em 19 de abril daquele ano. Na entrevista, Rangel se orgulha, entre outras
façanhas, de ter assistido Ben-Hur
(1959) nada menos do que 84 vezes no cinema (depois disso a conta subiu para
97).
[e] E não foram apenas seus filmes:
David Rangel prestou homenagem às suas paixões cinéfilas também por intermédio
dos filhos, todos batizados com nomes de astros do cinema. A primeira a nascer
foi Cathy, em 1977, referência a Cathy O’Donnell, de Ben-Hur. A seguir vieram Jeffrey Hunter, nascido em 1980, e
Charlton Heston, nascido em 1985. Também teve uma lancha chamada Miklós Rózsa.
[f] A Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) realizou um louvável resgate do trabalho de Hélio do Soveral no
programa Teatro de Mistério,
disponibilizando gratuitamente ao público 316 episódios da série, no formato
MP3. Os arquivos de áudio podem ser acessados no endereço eletrônico
http://www.tropix.nce.ufrj.br/teatro/. Curiosamente, o episódio utilizado por
David Rangel em seu filme não está entre os que foram digitalizados para este
acervo.
[g] Um ano depois de Justiça a Qualquer Preço, em 1974, a
produtora britânica Amicus lançou A Fera
Deve Morrer (The Beast Must Die),
de Paul Annett, com o “werewolf break”,
uma pausa de trinta segundos para que o espectador tentasse adivinhar a
identidade do lobisomem que estava aterrorizando os moradores de uma mansão
isolada. Era tarefa quase impossível, pois havia dois lobisomens na história. Todos esses filmes devem tributo ao
cineasta estadunidense William Castle, criador dos mais infames “gimmicks” do cinema: em A Trama Diabólica (Homicidal), de 1961, ele instituiu o “fright break” (pausa do medo), que interrompia o filme durante 45
segundos para que os espectadores mais medrosos pudessem abandonar o cinema
antes da chocante revelação final.
[h] Jerônimo chegou às páginas das
revistas em quadrinhos em 1957, com desenhos de Edmundo Rodrigues e Flavio
Colin. Foi levado às telas de cinema em 1972, num longa-metragem produzido,
dirigido e protagonizado por Adolpho Chadler. No mesmo ano foi parar na
televisão, interpretado por Francisco di Franco numa novela da TV Tupi. O ator
repetiria o papel do herói sertanejo em 1984, na nova versão da novela, desta
vez no SBT.
Eu sou o filho de David Rangel! Charlton Heston Moraes Rangel!
ResponderExcluirHj meu pai esta fazendo aniversario!
ResponderExcluirPai, Parabens, Felicidades, mtos anos de vida, saúde e que continue fazendo esses trabalhos com cinema q vc tanto amo...são votos de seu filho Charlton Heston Moraes Rangel e seu neto Gabriel Rangel!! bjus.
DAVID SOU EU RITA BRANDÃO, QUE SAUDADE, PERDI SEU CONTATO, ME TELEFONA, 26390288, 77502804 2 997846109, ESTOU MUITO EMOCIONADA AO LER TUDO ISTO SOBRE VOCÊ, REVIVI CADA MOMENTO DE NOSSAS VIDAS, CADA PALAVRA ME RECORDAVA TUDO QUE VOCÊ ME MOSTROU SOBRE CINEMA, LEMBREI DE TUDO. ESTOU MUITO FELIZ, GANHEI MINHA NOITE. BEIJOS NO CORAÇÃO.
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